SÉRIE
DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA:
Livro Estudado: Romanos
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Texto Bíblico: Romanos 1.1.
Παῦλος δοῦλος Χριστοῦ Ἰησοῦ,
κλητὸς ἀπόστολος ἀφωρισμένος εἰς εὐαγγέλιον θεοῦ,
(Rom 1:1 BGT)
Paulo, servo de
Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,
(Rom 1:1 ARA).
Introdução:
Estamos
iniciando a nossa série de exposição bíblica sobre esta grande epístola. É uma
carta onde à essência do evangelho é vislumbrada; uma carta que tem uma ampla
significância histórica para fé cristã. Pois, foi lendo tal carta que um homem
ímpio e pecador encontrou a Cristo – seu nome? Santo Agostinho, em sua busca
pela verdade, e pela paz no coração estava no jardim de sua casa quando ouviu
uma criança cantar – tole lege, tole lege!
Toma e ler! Toma e ler! Ele prontamente tomou o livro sagrado de Deus e abriu a
esmo na passagem de Romanos 13.13! E houve uma grande transformação daquele
homem – conhecido na história da igreja como o doutor da graça!
Outro
personagem da história da igreja que nos fala da grandeza desta epístola
chama-se Martinho Lutero, pois, e seus estudos exegéticos, da carta em apreço,
ele se deparou com o capítulo 1 versos 16-17, e então, eclode a Reforma
protestante; e por fim, um cristão que sentia grande agonia sobre o estado de
sua alma, encontrou conforto nas palavras de Paulo em Romanos 3.20-26, este
cristão era o grande músico Willam Cowper. Pois, bem diante deste vislumbre da
história podemos dizer que é um grande desafio expor a presente epístola. Tendo
esse senso de incapacidade nos aproximamos das declarações iniciais desta carta
considerando os seguintes aspectos:
I – O autor:
Notemos
como a carta começa “Paulo” – quem
era este “Paulo”? Se nós estudarmos o Novo Testamento certamente encontraremos
muitas coisas sobre este personagem. Vamos saber que ele era natural de uma
cidade chamada Tarso ( Atos 21.39; 22.3) e que nascera livre. Pois, era um
cidadão romano. Conforme vemos em Atos 22.3 ele fora instruído pelo maior
mestre da Lei de seu tempo – o nobre Gamaliel. Em Filipenses 3.5 somos
informados que este Paulo se destacara: como “hebreu de hebreus”. E fora
educado na exatidão da lei (Atos 22.3); por causa deste zelo passou a perseguir
os cristãos (Atos 22.4), ele recebera autorização para fazê-lo de maneira
desmedida conforme vemos em Atos 26.9-11:
“Na verdade, a mim
me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o
Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos
principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes
dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as
sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra
eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.”
Eis aqui o retrato deste homem
terrível! Um perseguidor da Igreja de Deus conforme o texto de Gálatas 1.13 nos informa – “Porque ouvistes qual foi o meu proceder
outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a
devastava.”
Mas, este homem era um eleito de
Deus! E no caminho para Damasco encontra-se como o Senhor Jesus isto pode ser
lido em Atos 22.6-8:
Ora, aconteceu que,
indo de caminho e já perto de Damasco, quase ao meio-dia, repentinamente,
grande luz do céu brilhou ao redor de mim. Então, caí por terra, ouvindo uma
voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Perguntei: quem és tu,
Senhor? Ao que me respondeu: Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu persegues.
Aqui
está o homem perseguidor da Igreja tendo uma experiência gigantesca de
redenção! O próprio Cristo apareceu a ele – ressurreto! Então, o perseguidor da
Igreja tornara-se o seu maior pregador depois do Senhor Jesus.
II – No que Paulo se Tornara:
Depois da
conversão compete-nos pensar no que este homem chamado “Paulo se transformara”?
O nosso texto continua a nos informar “servo
de Jesus Cristo” no grego temos “δοῦλος Χριστοῦ Ἰησοῦ”[doulos Xristou Iesou]. Aqui é algo de
capital importância para nós, pois, aquele perseguidor da igreja fora
transformado em “servo” apalavra usada aqui na língua grega é mais forte do que
“servo” é a palavra “escravo”. As implicações desta declaração paulina são
gritantes! Devemos nos lembrar que Paulo não fundara a Igreja de Roma – e agora
coloca-se a escrever para esta igreja, mas antes de tudo ele deseja demonstrar
a igreja que acima de tudo ele é “escravo”. O que faz um escravo? Um escravo
não faz a sua própria vontade, antes ele faz a vontade de seu senhor que o
governa que o dirige; então, Paulo aqui mostra-nos a sua total submissão ao seu
senhor.
Quem é o senhor de Paulo? Ora, na
frase seguinte ele nos diz: “[...] servo de Jesus Cristo...”. A pessoa bendita
de Cristo Jesus é o senhor de Paulo. O apóstolo procura mostrar que a essência
de sua vida, a identidade de sua pessoa, só pode ser avaliada, considerada sob
o senhorio de Cristo sobre a sua vida! Consideremos mais de perto o que Paulo
está dizendo:
Ao dizer que é servo de Jesus Cristo. Ele tem em mente o
significado destes termos. O nome Jesus como todos vocês sabem significa “Salvador” – Paulo mostra nesta
declaração que o seu Salvador é a quem ele deve servir como um escravo; o
segundo aspecto desta informação é o nome Cristo – que significa o “Messias”. O ungido de Deus para ser o
redentor do mundo.
Vemos aqui Paulo concentrando-se na
Pessoa bendita de Jesus Cristo. Cristo ocupara o primeiro lugar na identidade e
vida de Paulo. Ele sempre usa o Nome
de Cristo para mostrar a relevância que há na Pessoa do redentor. Ele mensura
isso se mostrando como “escravo de Jesus Cristo”.
Mas que implicações isso tem para
nós. A implicação disto é que todos nós que somos cristãos devemos ser escravos
de Jesus Cristo. Paulo reiterada vezes apresenta esta verdade acerca dos
cristãos, por exemplo, em 1ª Coríntios 6.19,20 nos diz: “19 Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo,
que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
20 Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso
corpo”.
Ele aqui lembra-nos que não “somos de
nós mesmos”, isto porque “fomos comprados por preço” – então, não devemos nos
tornar culpados de pecados como a fornicação. Por que temos um dono que exige
de nós santidade, alguém que pagou o preço por nós, pois, éramos escravos do
pecado, estávamos no mercado de escravos, então, Jesus Cristo foi lá e nos
comprou! Então, uma vez que vocês são templo do Espírito Santo, vocês não tem o
direito de fazer o que quiserem com o corpo de vocês-antes “glorifiquem a Deus
por meio de vosso corpo”.
O Filho de Deus comprou cada um de
vocês por um preço de seu sangue precioso, ele comprou vocês. Aqui está a
redenção descrita, pois, deixamos de ser escravos do diabo para sermos escravos
de Cristo. Todos nós pertencemos a Cristo, porque todos nós devemos ser
escravos de Cristo como é o autor destas palavras! Então, Paulo deve fazer a
sua vontade, deve fazer a vontade do Senhor Jesus Cristo, bem como cada um de
nós que professamos ser cristãos.
III – O Chamado de Paulo
Paulo identificara-se como “servo de
Jesus Cristo”, mas como bem sabemos o servo é designado para algo muito
específico, e a próxima frase nos leva a identificar que algo é esse: “chamado para ser apóstolo”. Aqui temos
uma gradação certamente, pois, Paulo nos dissera o que lhe acontecera e como se
tornou Cristo, bem como o que significa ser cristão – ser servo de Cristo
Jesus; e agora ele mostra-nos qual é a incumbência especial que receber de seu
senhor – ele é alguém “Chamado para ser
apóstolo”. No grego temos “κλητὸς ἀπόστολος”[kletos apostolos] – que literalmente
quer dizer: “um chamado apóstolo”.
Quero
chamar sua atenção para estas duas palavras: “chamado” e “apóstolo”. Pois,
estes dois termos são abusados em nossos dias, e ficamos apáticos quando isso
ocorre, nem sequer pensamos sobre isso, porque ignoramos o que o apóstolo nos
diz aqui.
Consideremos o termo apóstolo. O que
é um apóstolo? Bem, lembremos que Paulo ao identificar-se inicialmente como
escravo ele não o faz em termos gerais, mas de modo específico, ele é um
escravo que é apóstolo. Conforme vimos em 1ª Coríntios muitas pessoas duvidavam
e não aceitavam o apostolado de Paulo, e ele teve que reiteradas vezes defender
seu apostolado contra os falsos apóstolos que estavam naquela igreja; então,
aprendemos que o termo apóstolo, quando usado pelo apóstolo Paulo me referência
a si mesmo, designa um ofício específico.
Mateus 10.1-2 parece-nos mostrar
isso: “Tendo chamado os seus doze
discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e
para curar toda sorte de doenças e enfermidades. Ora, os nomes dos doze
apóstolos são estes:”. Aqui vemos uma mudança significativa, pois, no verso
1 eles são chamados de discípulos e no verso 2 de apóstolos. Por quê? Porque
nem todo discípulo é um apóstolo – Cristo de maneira deliberada mostra isso
aqui. Apenas estes discípulos aqui tornaram-se apóstolos. Isso é confirmado em
Lucas 6.12,13: “Naqueles dias, retirou-se
para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E, quando
amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos
quais deu também o nome de apóstolos:”.
Porque tive que me deter neste
ponto? A resposta é simples é o fato de que o termo apóstolo significa enviado
como mensageiro, com uma missão e no Novo Testamento descreve uma pessoa que é
enviada com a autoridade para representar alguém e falar em nome desse alguém
que a envia. Então, isso nos conduz para a pergunta quais são as
características de um apóstolo?
1. A primeira delas é ser testemunha ocular da
ressurreição do Senhor: Isto é confirmado nas escrituras na escolha da
igreja primitiva por Matias para ocupar o lugar de Judas (Atos 1.21 – “É necessário, pois, que, dos homens que nos
acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós,”). Outro
texto que confirma isso é 1ª Coríntios 9.1 – “Não sou eu, porventura, livre?
Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Ou seja, sou testemunha da
ressurreição.
2. A
segunda verdade sobre este ponto é que homem para ser apóstolo tinha que ser
especialmente chamado. Conforme já
vimos! Paulo fora chamado no caminho para Damasco.
3. Um apóstolo é alguém que receber uma autoridade
para realizar milagres: O apóstolo Paulo menciona este aspecto em 2ª
Coríntios 12.12: “Pois as credenciais do
apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por
sinais, prodígios e poderes miraculosos. ”.
Isso tudo nos leva para uma
pergunta. Há apóstolos hoje? Muitos se designam apóstolos, mas são blasfemos,
pois, não possuem nenhuma das características que as Escrituras apresentam para
o apostolado. Paulo aqui nos mostra que “um chamado apóstolo” porque possuía
tais características. Hoje em dia há muitas igrejas que possuem falsos
apóstolos que arrogam um ofício que não há mais na igreja, tudo para enganar o
povo.
Agora, consideremos a palavra
“chamado” no grego temos a palavra “κλητὸς” [kletos] – o termo descreve o chamado específico, a chama de Deus
para aqueles que ele vocaciona para o sagrado ministério! Aqui o termo é
aplicado ao apostolado de Paulo ele fora chamado pelo próprio Cristo para
realizar a tarefa da pregação do evangelho de Deus. Ou seja, ninguém deve se
intrometer no ministério se não foi chamado para isso!
IV – A Tarefa do Apóstolo Paulo:
Isto nos leva
para o próximo passo. Este apóstolo ele é chamado para uma tarefa específica
que segue imediatamente à declaração anterior: “separado para o evangelho de Deus” - ἀφωρισμένος εἰς εὐαγγέλιον θεοῦ, - Paulo é colocado à parte é isto que significa o verbo
grego “ἀφωρισμένος”- para o
objetivo de proclamar o evangelho de Deus.
A palavra evangelho significa
“boa-nova”. Paulo diz que é um apóstolo separado para pregar o evangelho que é
de Deus. É a noticia da redenção que Deus quer anunciar ao homem perdido, ao
pecador, e para isso, ele usa vasos de barros para comunicar o evangelho. Ele
separa homens para ser pregadores destas boas-novas de salvação é isso que
Paulo quer mostrar-nos.
O que isso tem haver conosco? Bem,
somos chamados para anunciar o evangelho de Deus aos homens, é nosso dever
fazê-lo, é nossa obrigação viver deste modo. Que verdades nós aprendemos aqui
neste texto da palavra de Deus:
1. Podemos
ter esperança sobre a conversão de pecadores: Aprendemos aqui que um
homem como Paulo que fora perseguidor da igreja de Deus, se tornara uma
cristão, um homem temente a Deus, então, há esperança para os nossos entes
queridos que não conhecem a Cristo.
2. Submissão total a Cristo: A segunda
verdade que podemos aprender e aplicar apartir deste texto é que uma vez
cristãos devemos ser “escravos” de Cristo, se submeter a sua vontade soberana,
ele é nosso Senhor, nós lhe pertencemos e devemos ser submissos a ele.
3. A certeza e a finalidade de nosso chamado: Ainda que não
sejamos apóstolos como designa a Palavra de Deus, todos nós somos discípulos,
fomos chamados para glorificar a Deus e com a finalidade de proclamarmos o
evangelho da graça de Deus aos homens, é nosso papel, é nosso dever fazê-lo,
como escravos obedientes ao nosso Senhor Jesus Cristo.