PAULO SOBRE
MULHERES FALANDO NA IGREJA
Benjamin B. Warfield
Recentemente eu recebi uma carta de
um valioso amigo, pedindo-me para enviar-lhe uma “discussão sobre as palavras
gregas laleoe lego em passagens como 1Coríntios
14.33-39, com referência especial à seguinte questão: O versículo 34 proíbe
todas as mulheres em todos os lugares de pregar publicamente nas igrejas
cristãs?” O assunto é de interesse universal, e tomo a liberdade de comunicar a
minha resposta aos leitores doThe Presbyterian.
Deve ser dito que, não existe nenhum
problema com referência às relações de laleo elego.
Além das sutilezas de interesse meramente filológico, estas palavras se
relacionam entre si, assim como as palavras portuguesas “falar” e “dizer”, isto
é, laleoexpressa o ato de falar, enquanto lego se
refere àquilo que é dito. Como indicado, quando a referência é ao ato de falar,
sem menção ao que é dito, laleo é usado, e deve ser usado.
Nada há de depreciativo na intimação da palavra, mais do que há em nossa
palavra falada, embora, é claro, às vezes pode ser usada depreciativamente como
a nossa palavra falada, como quando às vezes os jornais afirmam que o governo é
dado a simplesmente falar. Esta aplicação depreciativa de laleo,
porém, nunca ocorre no Novo Testamento, embora a palavra seja usada com muita
frequência.
Portanto, a palavra está no seu lugar
correto em 1Coríntios 14.33ss, e necessariamente tem ali o seu significado
simples e natural. No entanto, se precisássemos de algo para corrigir o seu
significado, isso seria fornecido por seu uso frequente na parte inicial do
capítulo, onde ela se refere não apenas ao falar em línguas (que era uma
manifestação divina e ininteligível apenas por causa das limitações dos
ouvintes), mas também para a fala profética, sobre a qual é dito ser para
edificação, exortação e consolo (versos 3-6). Poderia ser fornecido, mais
pungentemente, por seu termo contrastante “caladas” (versículo 34). Aqui temos laleodiretamente
definida para nós: “conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não
lhes é permitido falar”. Calar-falar: estes dois são opostos; e um define o
outro.
É importante observar agora que, o
pivô sobre o qual a injunção destes versos volta, não é a proibição de falar
tanto quanto a ordem de calar-se. Esta é a principal injunção. A proibição de
falar é introduzida apenas para explicar o significado mais plenamente. Em
síntese, o que Paulo diz é: “Que as mulheres estejam caladas nas igrejas”.
Seguramente, isto é direto e específico o suficiente para todas as
necessidades. Então, de forma explanatória, ele adiciona: “Porque não lhes é
permitido falar”. “Não é permitido” é um apelo a uma lei geral, válido para
além do mandamento pessoal de Paulo, e chama a atenção para a frase de abertura
no verso anterior: “Como em todas as igrejas dos santos”. Ele está exigindo das
mulheres de Corinto aquilo que está em conformidade com a lei geral das
igrejas. E este é o significado das palavras quase amargas que ele acrescenta no
versículo 36, em que, repreendendo-os pela inovação de permitirem que as
mulheres falem nas igrejas, ele os lembra de que não são os autores do
evangelho, nem são seus únicos possuidores, exorta-os a permanecerem na lei que
vincula todo o corpo de igrejas, e a não procurarem uma nova moda de fazerem as
coisas do seu próprio jeito.
Os versículos intermediários apenas
deixam claro que, o que o apóstolo está fazendo precisamente é proibindo as
mulheres de falarem a todos na igreja. Sua injunção de silêncio é colocada de
tal maneira que ele até as proíbe de fazerem perguntas, e acrescenta, com
especial referência a isso, mas através do assunto geral, a nítida declaração
de que “é indecente”, pois este é o significado da palavra “para uma mulher
falar na igreja”.
Seria impossível para o apóstolo
falar de forma mais enfática e direta do que ele fez aqui. Ele requer que as
mulheres fiquem em silêncio durante as reuniões da igreja. Pois isto é o que
“nas igrejas” significa, visto que ainda não existiam os edifícios das igrejas.
Ele havia acabado de descrever essas reuniões, nos versos 26ss. Elas eram muito
semelhantes às nossas reuniões de oração. Observe as palavras “cale-se o
primeiro”, no versículo 30, e compare com “conservem-se as mulheres caladas nas
igrejas”, no versículo 34. A proibição de mulheres falarem abrange, dessa
forma, todas as reuniões públicas da igreja; é o caráter público, não a
formalidade da reunião, que é o ponto. E ele nos diz repetidamente que esta é a
lei universal da igreja. Ele faz mais do que isso. Ele nos diz que este é o
mandamento do Senhor, e enfatiza a palavra “Senhor” (verso 37).
A passagem de 1Timóteo 2.1ss é muito
forte, embora seja mais particularmente direcionada para o caso específico do
ensino público ou governo da igreja. Neste contexto o apóstolo já tinha, de
forma incisiva, confinado a oração pública aos homens (versículo 8, “varões” em
contraste com “mulheres”, do versículo 9), e agora ele continua: “A mulher
aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine,
nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio”. Nem o ensino nem a
função de governar são permitidos à mulher. Aqui o apóstolo afirma: “E não
permito”, em vez do que diz em 1Coríntios 14.33ss: “não lhes é permitido”,
porque aqui ele está dando as suas instruções pessoais a Timóteo, seu
subordinado, enquanto lá ele estava anunciando aos coríntios a lei geral da
igreja. No entanto, o que ele instrui a Timóteo também é a lei geral da igreja.
E assim ele vai adiante e fundamenta sua proibição numa razão universal que
afeta igualmente a toda a raça.
Em face destas duas passagens
absolutamente simples e enfáticas, o que é dito em 1Coríntios 11.5 não pode ser
usado como apelação para mitigação ou modificação. Precisamente, o que
significa 1Coríntios 11.5 ninguém sabe direito. O que é dito nesta passagem é
que toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua
cabeça. Parece justo inferir que se ela ora ou profetiza com a cabeça velada,
não desonra a sua cabeça. E parece ainda mais justo inferir que ela pode orar
ou profetizar de maneira própria apenas se estiver com a cabeça velada. Estamos
acumulando uma corrente de inferências. E elas não nos levam para muito longe.
Não podemos inferir que seria próprio para ela orar ou profetizar na igreja se
apenas ela estivesse velada. Nada é dito sobre igreja na passagem ou no
contexto. A palavra “igreja” não ocorre até o versículo 16, e quando ocorre ela
não governa a referência da passagem, porém apenas como fornecendo suporte para
a injunção da passagem. Não há razão alguma para acreditar que “orar e
profetizar” diz respeito à igreja. Nem era um exercício confinado à igreja. Se,
como em 1Coríntios 14.14,
a “oração” mencionada era um exercício estático – como o seu lugar por
“profetizar” pode sugerir, então, para ser levado em consideração, haveria a
divina inspiração substituindo todas as leis ordinárias. E já existiu ocasião
para observar que a oração pública é proibida às mulheres em 1Timóteo 2.8,9.
Salvo se simples presença na oração é o que significa, caso em que esta
passagem é um paralelo próximo de 1Timóteo 2.9.
Então, o que deve ser notado, em
conclusão, é: (1) Que a proibição de as mulheres falarem na igreja é precisa,
absoluta e todo-inclusiva. Elas devem ficar caladas nas igrejas – e isso
significa em todas as reuniões públicas de adoração; elas não podem nem mesmo
fazer perguntas; (2) que esta proibição é dada por dois pontos especiais,
precisamente pelas duas questões de ensino e governo, que abrangem
especificamente as funções de pregação e governo dos presbíteros; (3) que os
fundamentos sobre os quais a proibição é colocada são universais, e estão
ligados à diferença de sexo, e particularmente sobre os lugares relativos
atribuídos aos sexos na criação e na história fundamental da raça (a queda).
Talvez deva ser adicionado, em elucidação
ao último ponto, que a diferença nas conclusões de Paulo e do movimento
feminista de hoje está enraizada numa diferença fundamental em seus pontos de
vista concernentes à constituição da raça humana. Para Paulo, a raça humana é
constituída de famílias, e todos os diversos organismos, incluindo a igreja,
são compostos de famílias, unidos por este ou outro vínculo. Por esta razão, a
relação entre os sexos na família é refletida na igreja. Para o movimento
feminista a raça humana é composta de indivíduos; uma mulher é apenas outro
indivíduo ao lado do homem; e ele não pode enxergar nenhum motivo para as
diferenças no tratamento com os dois. E, de fato, se não podemos ignorar a
grande diferença fundamental de sexo, e destruir a grande unidade social fundamental
da família por interesse do individualismo, não parece haver qualquer razão
para não acabarmos com as diferenças estabelecidas por Paulo entre os sexos na
igreja. Exceto, é claro, a autoridade de Paulo. Em tudo, finalmente, voltamos à
autoridade dos apóstolos, como os fundadores da Igreja. Podemos gostar ou não
do que Paulo diz. Podemos estar dispostos a fazer o que ele manda ou não. Mas
não há espaço para dúvidas a respeito do que ele diz. E, certamente, ele nos
diria o que disse aos coríntios: “O quê? Foi entre vocês que a Palavra de Deus
se originou? Ou ela veio somente a vocês?” O nosso Cristianismo tem a ver com o
que nós gostamos? Ou é a religião de Deus, recebendo dele as suas leis através
dos seus apóstolos?
FONTE: The Presbyterian. 30/10/1919.
TRADUÇÃO: Alan
Rennê Alexandrino Lima
REVISÃO: Carlos
Almeida
TEXTO EXTRAÍDO DO BLOG:
http://cristaoreformado.blogspot.com.br/2012/04/paulo-sobre-mulheres-falando-na-igreja.html