ESTUDANDO A PALAVRA

ESTUDANDO A PALAVRA

terça-feira, 9 de setembro de 2008

ADMINISTRAÇÃO LEGÍTIMA DOS SACRAMETOS – EVIDÊNCIA CONCRETA DE UMA IGREJA VERDADEIRA.

Introdução: Vivemos em uma época na qual os sacramentos não são visto como de fato deveriam ser vistos, muitos interpretam muito mal a concepção dos sacramentos dentro da tradição calvinista / presbiteriana.
Os sacramentos são negligenciados em nossas igrejas presbiterianas com muito freqüência; tratamos o batismo como algo sem valor, somos batizados para quê? E por quê? O batismo só ocupa a nossa mente no momento de sua celebração – e finda toda uma teologia batismal porque não refletimos sobre a sua devida importância dentro da Igreja; de igual modo temos a Eucarístia ( Santa Ceia ) tem recebido somente o desprezo, incluindo a falta de exposição sobre este assunto, como também a falta de zelo para com a mesma. Nesta noite buscaremos oferecer alguns fundamentos teológicos para os sacramentos, e mostrar sua importância dentro da Igreja Verdadeira.

I – DEFININDO SACRAMENTOS.

Muitos dos problemas que envolvem a questão sacramental diz respeito ao fato de que a Igreja precisa entender adequadamente o que seja os sacramentos. O nosso Catecismo pergunta? “O que é um sacramentos”? “É uma ordenança sagrada instituída por Cristo na Sua Igreja, para significar, selar e aplicar, àqueles que estão no pacto da Graça, os beneficíos da Sua mediação; para fortalecer e aumentar-lhes a té e todas as demais graças, compelido-os à obediência; para que testifiquem e partilhem do amor e da comunhão uns para com outros; e para distinguí-los dos estão de fora”. (Catecismo Maior de Westminster, perg. 162)

Esta definição é bastante completa sobre o que são os sacramentos. Por isso, devemos nos deter um pouco nesta questão. A primeira questão que deve ser compreendida aqui no texto é que os sacramentos são Cristocêntricos.
Eles não são instituídos por homem algum. Mas, pelo próprio Cristo. Por que isso? Bem, porque no Antigo Testamento os sacramentos: Circuncisão e Páscoa apontavam para a obra redentiva de Cristo.
Na questão da circuncisão temos a questão do pacto sendo realizado por um rito de purificação, que conotava duas realidades:
1. Humilhação: Os judeus ao se submeterem ao rito sacramental da circuncisão estavam de fato declarando que eram pecadores.
2. Esperança Escatológica: no rito que era aplicado no prepúcio masculino indicava a esperança escatológica messiânica; O messias em Genesis 3.15 sempre relembrado na circuncisão.
Na Páscoa temos também duas realidades fundamentais:
1. Realidade da redenção: o povo comemorava a Páscoa relembrando o ato de redenção de Deus sobre o povo do pacto.
2. Realidade do perdão: neste sacramento o povo tinha plena certeza de que foram perdoados os seus pecados.
Então, por isso os sacramentos são cristocêntricos; a Bíblia nos ensina isso de forma clara em Gn.17.7, 10 “Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado.”
O que nos chama atenção é que o autor sagrado nos diz que é uma “aliança perpétua” (~l'_A[ tyrIåb.li) – liberith olam – que literalmente significa “aliança eterna”, logo não é um rital para determinar etnia – mas para perdurar como elemento fundamental de uma realidade espiritual.
Em Mateus 28.19 temos a grande comissão sendo dirigida aos seus seguidores, todavia, notamos que os sacramentos pertencem a essa comissão, isso por si só comprova a importância cristológica para os sacramentos. Eles não deviam apenas pregar o evangelho, mas deveriam também realizar o batismo
II – FINALIDADE DOS SACRAMENTOS.

Alguém poderia perguntar: para que serve os sacramentos na Igreja? Esta é uma boa questão que precisamos considerar com propriedade. O nosso catecismo nos ensina que os sacramentos são ordenados por Cristo para significar:
1. Que Cristo de fato nos redimiu de nossos pecados – as graças da obra da mediação.
2. Para aplicar essa graça com o auxilio do Espírito Santo.
3. Para aumentar a fé dos crentes.
Estes três propósitos fundamentais têm sido negligenciados nas Igrejas de nossa época. Paulo escreve aos Romanos 4.11 “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça,”
Chamo sua atenção para o fato de que Paulo diz que a circuncisão é:
1. Sinal - shmei/on – (sêmeion): aponta para a idéia de que o sacramento aponta para onde devemos encontrar algo, neste caso a fé;
2. Selo - sfragi/da – (sphagida): aponta para a realidade que a circuncisão sela a obra da redenção trazida. É segurança para todo aquele que de fato foi “justificado pela fé”.
Este fato aumenta a fé do cristão conduzindo-o a obediência. Note que os sacramentos devem nos leva a obediência a Deus e a sua palavra, pois, nós pertencemos ao seu povo. Pois, pelo sacramento Deus declara algo a nosso respeito.

III – OS OFICIAIS E OS SACRAMENTOS.

A real dificuldade na igreja em relação a este assunto está no fato de que os oficiais não dão tanta importância quanto, pelo menos é o que pensamos, deveriam dar. Em nosso sistema presbiteriano de governo, os presbíteros deveriam ser os guardiões dos sacramentos, todavia, não é isso que tem ocorrido na Igreja evangélica, especialmente, nas chamadas Igrejas Presbiterianas. O batismo é recomendado para se aumentar o rol de membros na Igreja; e assim na reunião anual do presbitério apresentar um somatório à Igreja.
Esta perspectiva está errada, pois, o batismo é um sinal de que “estamos em Cristo, e temos a remissão de pecados e formos regenerados pela ação do Espírito Santo” ele não nos foi dado para acrescentar números à Igreja.
Embora no sacramento do batismo haja um rigor para se batizar alguém, até existe uma classe de catecumenato; não acontece o mesmo no campo da Eucarístia, pois, é aqui onde a Igreja tem manifestado problemas. Vejamos alguns destes problemas concernente a Santa Ceia:
1. O sacramento que não é Sacramento: Infelizmente na Igreja Presbiteriana os sacramentos são celebrados como se fossem um memorial – a doutrina memorialista pertence ao Zwíglianismo e não ao Calvinismo. Ou seja, há pastores em nossas Igrejas que dizem que os sacramentos só são “pão e vinho” e na mais do que isso, pois, não há nenhum poder espiritual que emana destes elementos. Para o grande reformador Zwínglio a Santa Ceia “representava” o corpo de Cristo. Ele chama isso de “ato de lembrança” da morte de Cristo[1], a concepção memorialista visava espiritualizar tudo[2], pois, queria-se negar a transubstanciação, mas não queriam acabar com o sacramento.
Todavia, quando lemos as Escrituras vemos de fato que no ato da celebração da Ceia há punição para aquele que come sem discernir o corpo de Cristo, pois, tal ato seria profanar o sacramento e o resultado disso é a morte conforme vemos em 1 Co. 11.29-30.
Se os sacramentos são os sinais da aliança pactual, eles possuem bençãos, para os obediêntes, e maldições, para os desobediantes; logo, eles são de fato meios eficazes da salvação.
2. A celebração Indiscriminada do Sacramento da Eucarístia: Este é outro ponto. Na Igreja presbiteriana da atualidade qualquer pessoa de outra igreja evangélica pode tomar do “pão e beber o cálice”, pois, a “Santa Ceia” não é da Igreja Presbiteriana, mas do Senhor. É exatamente aqui onde reside todo o perigo. Nós nos tornamos celebres em abrir mão da comunhão e chamarmos um arminano para celebrar a Santa Ceia conosco – então deveríamos chamar um católico, espírita, budista – e assim, os chamamos de irmão. O princípio de Êx. 12.48 se aplica adequadamente a questão dos que devem participar deste sacramento. Os participantes devem fazer parte do povo da aliança de Deus! Logo nenhum herege, o que mantém heresia perniciosa deveria particapar deste sacramento. A igreja não se preocupa muito com isso em nossos dias, pois,
“Um membro está disciplinado ou excomungado de uma Igreja e vai para outra e lá sem questionamentos participa da Ceia. Lembramos que biblicamente (Mt.18) a excomunhão pela Igreja é feita nos céus. É um apedrejamento espiritual da pessoa; é matá-la, é entregá-la a Satanás, como diz a Bíblia. Ela não pertence ao reino dos céus. Os céus estão fechados para esta pessoa enquanto continuar impenitente em seu pecado. Esta pessoa não faz parte do reino dos céus, do povo de Deus. Vemos a posição absurda de uma igreja tirando a comunhão um pessoa e outra igreja dando-lhe a comunhão, dando-lhe acesso à mesa do Senhor, especialmente se esta pessoa tem uma boa oferta”[3]
Mas, ainda há algo mais perigoso! É a participação de pessoas de outras Igrejas que negam as doutrinas da graça de Deus. Quando me sento em comunhão com arminiano estou sendo no mínimo hipócrita! Pois, estou admitindo na Santa Ceia alguém que não pensa corretamente sobre as verdades de Cristo, alguém que nega a Soberania de Deus na salvação, que nega a depravação total da raça humana, que nega a eleição de Deus; uma pessoa que diz que Cristo não morreu objetivamente para salvar somente os eleitos de Deus.
A Igreja peca quando abre as portas para qualquer arminiano comungar com ela, pois, ela está se auto-condenando, dizendo que crer nas mesmas doutrinas que o arminano crer. Um pastor presbiteriano falando sobre a questão nos diz as razões porque as instruções gerais do púlpito são ineficazes;
1. Porque estabelece um duplo padrão para os sacramentos: No batismo os homens são admitidos pelos oficiais da Igreja a ele; na Santa Ceia os homens se auto- examinam; ora, no primeiro sacramento isso não acontece, mas é o conselho quem examina a pessoa, por que na Ceia tem que ser diferente?
2. Porque coloca a responsabilidade sob os ombros de pessoas incompetentes para assuntos espirituais: Quem deve orientar o crente quanto as questões espírituais? Na certa são os presbíteros da Igreja. Quando a Santa Ceia for celebrada os presbíteros devem sondar, conversar, exortar e repreender aqueles que são incapazes de participar deste sacramento.
3. Porque não apoia a autoridade disciplinar de outras Igrejas: Membros sob jurisdição de outros presbíteros não devem ser colocados ou tirados de disciplinas por uma simples instrução no púlpito.
4. Porque nutri o individualismo: Quando eu digo que o membro pode se examinar para tratar desta questão eu estou dando margem para que ele viva um cristianismo individual, onde não sentirá necessidade de obedecer e se submeter a alguém.
5. Porque deixa passar uma oportunidade para esclarecermos os motivos porque agimos assim: Quando se anuncia no púlpito que qualquer pessoa pode participar da Ceia, estamos de fato perdendo a oportunidade de expor porque a Ceia é tão singular e deve ser restrita.
6. Porque não é bíblica: A tradição entre as Igejas presbiterianas da Escócia, Canadá, Autrália era exatamente que somente eram admitidos na Ceia os membros que eram jurisdicionados pelos presbíteros locais e que conheciam os membros. A nossa Confissão nos autoriza a fazermos isso no cap. 29. Seção 8.
O dr. John Murray diz que o “conselho (das Igrejas Presbiterianas e Reformadas) exerce a supervisão (da Santa Ceia) a ponto de exigir de todos os que dela participam que sejam por ele autorizados a isso...”[4]
3. A Eucarístia e o Culto: Há ainda outro problema. Os presbíteros de nossas Igrejas ignoram o que diz a nossa Confissão de Fé de Westminster sobre a questão da Santa Ceia como elemento de Culto. A Confissão em seu capítulo 21 seção 5 nos diz que a Eucarístia pertence ao “culto ordinário prestado a Deus no Domingo”. Ou seja, o sacramento deveria ser dominical. As perguntas 174 e 175 do Catecismo Maior também nos falam disso!
Alguns têm argumentado que tendo a Santa Ceia dominicalmente vamos banalizar os sacramento, mas o problema com esse argumento é que seria válido para: A pregação, leitura da Bíblia, Cântico dos Salmos. Então, quando a Igreja realiza o sacramento uma única vez por mês ela não está prestando um culto ordinário, mas nos parece ser algo extraordinário! A pregação e Eucarístia anunciam Cristo e a sua redenção. Veja-se: Atos 2.42; 20.7-14.
Um culto sem a Eucarístia é trôpego, aleijado e manco. Pois, pregação deveria nos preparar para o momento da Santa Ceia, mas infelizmente os nossos presbíteros não conhecem mais as suas bases confessionais e bíblicas, e assim negligenciam os sacramentos, especialmente a Santa Ceia.
IV – OS SACRAMENTOS E O TERCEIRO MANDAMENTO.

Esta em falta nos nossos dias uma relação singular que existe entre os sacramentos e o terceiro mandamento da Lei de Deus. A pergunta 112 do Catecismo Maior relaciona os sacramentos ao terceiro mandamento.
O que isso significa? Bem, se todos nós olhássemos para o que está escrito em Mateus 28.18-19 poderíamos entender adequadamente esta relação. Notem o que Jesus nos ensina: ele diz que os seus apóstolos deveriam pregar o evangelho e batizar, mas batizar em nome de quem? Em nome de Deus “Pai, Filho e Espírito Santo”, ou seja, em nome da Trindade. Ora, os sacramentos carregam o nome Deus!
Profanar e desprezar o sacramento é tomar o nome de Deus em vão! É zombar do meio de graça que Deus outorgou à Igreja, isto nos leva para implicações fundamentais; o batismo me diz que pertenço a Deus e que ele deve ser honrado por vida de piedade!
A Segunda implicação é que este batismo não deve ser repetido. Ou seja, quando eu digo que alguém precisa ser batizado novamente estou dizendo que Deus não validou, não autorizou e não manifestou seu nome no Batismo! A nossa Confissão nos ensina que o Batismo deve ser administrado “uma única vez” sobre a mesma pessoa – por isso ele não é contínuo no culto – isso porque Deus já declarou que esta pessoa pertence a Ele, e confirma que tal pessoa está no pacto da graça de Deus.
Na Eucarístia devemos Ter o cuidado porque Deus recapitula para nós a história da Salvação. Ou seja, ela nos mostra a realidade da redenção conquistada na Cruz. Mas, não é apenas isso, ela nos diz que o nome de Deus foi honrado na Encarnação de Cristo, nela o nome de Deus é manifestado aos homens – aprendemos isso:
1 – Que Cristo veio
2 – Que Cristo morreu e ressuscitou.
3 – Que Cristo voltará para julgar o mundo.
É exatamente estas três verdades que aprendemos em 1 Co. 11.24-31.
[1] KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na Tradição Reformada – A presença da Teologia Sacramental Zwíngliana em Igrejas no Brasil, São Paulo: Fonte Editorial, 2005,p. 61-62
[2] GEORGE, Timothy. A Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1994, p.148.
[3] WIESKE, Kenneth. Os Sacramentos e a Responsabilidade da Liderança In: Revista Os Puritanos: A Mesa é do Senhor! – Uma ordenança Negligênciada, Ano XIV, Nº2, São Paulo: Os Puritanos, 2006 , p.23

[4] Idem, pp.29-30;40.

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