ESTUDANDO A PALAVRA

ESTUDANDO A PALAVRA

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL

OS FRANCESES NO BRASIL COLONIAL.
Por: João Ricardo Ferreira de França.

O segundo governador do Brasil durante os anos de 1553-1558 foi Duarte da Costa; tal governo foi menos feliz que o de seu antecessor, “pois que nocivas discórdias e lamentáveis acontecimentos quebraram no seu tempo a harmonia e a paz da colônia”[1]. Por uma questão política somos informados que o filho do governador por ser jovem o bastante foi repreendido pelo bispo do Brasil para observar os bons costumes da nova pátria. Isso foi o suficiente para gerar desarmonia entre o governador e o bispo. Tal acontecido gerou conflitos entre Duarte da Costa e os chamados frades Jesuítas[2]
Somos informados que durante este período houve grandes conflitos entre os portugueses e os indígenas; houve também entre patrícios conflitos gritantes por causa do colégio jesuíta – o Nóbrega – isso fez com que o bispo Pero Fernandes Sardinha fosse convocado pelo Rei para explicar e resolver tais conflitos – dos quais ele já fora informado existir na colônia – todavia, o bispo não chegou a seu destino.
O bispo havia embarcado[3] para Lisboa em 2 de junho, mas o seu barco naufragou no dia 16 deste mesmo mês, ele conseguiu escapar de seu afogamento, e chegou próximo da foz do rio Cururipe, todavia, foi preso pelos Índios Cahatés, que eram antropofágicos, e o devoraram, assim como todos os que estavam com ele.
O historiador Calmon nos indica que foi “horrível a matança dessas cem pessoas muito relacionadas na Bahia.”[4] Diz Frei Vicente que se salvaram apenas dois índios, e um português que lhes sabia a língua[5]
Alguns historiadores dizem que tais conflitos precederam a maior de todas as ameaças, era a chegada de um grupo de franceses, Macedo é um destes historiadores:
No rio de Janeiro anunciava-se um perigo ainda mais grave. Nicolau Durand Villegagnon, cavaleiro de Malta, e vice-almirante da Bretanha, ganhando, como calvinista, a proteção do almirante Coligny, a quem confiou a idéia que concebera de fundar no Brasil uma colônia, asilo para os sectários de Calvino, e obtendo por intervenção do mesmo Coligny, alguns auxílios do rei da França Henrique II, preparou uma expedição, e saindo com ele do Havre, entrou na Baía do Rio de Janeiro em novembro 1555[6]
Nos chama atenção que alguns historiadores acusam os franceses de serem “místicos” que aqui chegaram para “fundar a colônia de Villegaignon.”[7]essa era uma acusação pugente para se rejeitar desde o início a presença dos franceses.
Qual era a primeira intenção de Villagaion? Era estabelecer uma colônia para os refugiados franceses, mas a real idéia seria de estabelecia uma cidade que deveria Ter o nome de “Henriville” que era “em honra do seu rei, assim como da França Antártica a nova colônia francesa que se estenderia pelo Brasil”[8].
Os franceses ocuparam a “grande ilha na Guanabara”, os tamoios[9] eram aliados dos franceses e estavam presentemente marcantes na Baía de Guanabara. Os “maracajás” eram inimigos dos “tamoios”; os “maracajás” eram aliados dos portugueses, Pedro Calmon nos informa que este grupo de índios tinha “ódio a tamoios e mairs” e que eles “não perdoavam e não traíam”.[10] E que no momento do conflito com os franceses estes índios foram convocados para defender Portugal.
E dentro deste contexto é bom que se diga que “a presença protestante no Brasil foi tida como invasora e prejudicial, porque estava mesclada com interesses comerciais e políticos. Tanto franceses no Rio de Janeiro, como holandeses em Pernambuco, constituíram ameaças para o reino de Portugal”.[11]
Outro fato interessante é que os franceses “achavam populações aliadas, abundante resgate, clima propício e jeito de permanecer”.[12]

VILLEGAIGNON – UMA BREVE BIOGRAFIA.

Ele era o sobrinho do “grão-mestre da Ordem de São João de Jerusalém, Villiers de I’Isle-Adam”[13], ele era o vice-almirante da Bretanha, conforme já indicamos, veterano da expedição espanhola de Argel[14].
Villagaignon sempre foi visto como um destemido navegado, de quem se contava belas proezas, tais como o transporte arriscado da Rainha Maria Stuart, esta era a noiva de Francisco II, burlando a vigilância dos navios Ingleses.
No campo dos estudos somos informados que ele estudou “algum tempo com Calvino”[15], e ligara-se a Gaspar de Coligny, Almirante da França, Villegaignon foi arrebatado pelo Sonho de criar na América uma colônia exemplar - sendo também um refúgio dos perseguidos – e com os meios necessários para tal empreitada, mandou recrutar nas ruas de Paris, ao som das trombetas, quantos quisessem acompanhá-lo.[16]Ele não só levou cidadãos que estavam nas ruas, outro historiador nos indica que ele “com a permissão do Rei levou jovens de várias prisões francesas”[17]. Estas questões são pertinentes ser analisadas. A correspondência mantida entre Calvino e os franceses, inclusive com Villegaignon nos mostra o interesse de Calvino pela França reformada que aqui se estabelecera.
Qual era a real intenção de Villegaignon? A primeira intenção dele em convidar os calvinistas para o Brasil se estribava no interesse em sufocar as rebeliões que possivelmente “surgiriam na nova colônia através da aplicação do ensino religioso sistemático e rígido”[18]. Logo de inicio esta tentativa(de estabelecer uma colônia francesa) estava fada ao fracasso, visto, que os ideais de Villegaignon não estavam alinhados com a evangelização calvinista, um grande historiador nos diz:
O que se infere, em suma, dos documentos, e da própria conduta de Villegaignon na América, é que o homem nunca deixou de ser católico; e que em França se disfarçou quanto pôde, só para criar um grande motivo que tornasse popular e patriótico o empreendimento planeado, que na ilha de Coligny continou por algum tempo a comédia; e que, assim que sentiu como Henrique II tomava interesse pela obra, e que não era mais preciso parecer protestante, entendeu que não havia mais necessidade de contrafazer-se.[19]
Ele era um homem de caráter dúbio era o líder dos calvinistas neste imenso Brasil. E ainda assim, teve a coragem de trair todos os que o haviam apoiado. O investimento desta empreitada é registrado por Calmon que diz “O rei deu 10 mil libras tornesas”, e ainda ele sugere que foi “Coligny que entrou com a maior parte dos gastos. O fato é que brevemente equipou Villegaignon dois navios de 200 toneladas, neles embarcou algumas centenas de aventureiros, e saiu do Hevre a 12 de julho de 1555, rumo ao Rio de Janeiro”.[20]

BAÍA DE GUANABARA – UM MUNDO CALVINISTA PERDIDO.

No ano de 1557 o sobrinho de Villegaignon “chegou ao Rio de Janeiro, trazendo à colônia francesa um reforço de trezentos homens, o que tornava mais evidentes as disposições para uma ocupação permanente.”[21]Esse primo de Villegaignon chamava-se Bois-le-Comte essa chegada de reforços e conjectura política do país naquela situação acirrava ainda mais os sentimentos negativos em relação aos franceses; pois, agora o novo governador era o Mem de Sá.
Esse novo governador geral do país fortaleceu a ordem do jesuítas, onde todas as aldeias dos índios eram quase que completamente colocadas sob o governo desse grupo; Mem de Sá ainda puniu severamente a antropofagia, “que efetivamente desapareceu das hordas sujeitas ao seu poder”.[22]
Ele tornara-se uma grande estrategista em conflitos bélicos, pois, dirigiu-se para a Capitania de Ilheús para guerrear contra os Índios que apoiavam os franceses – essa capitania servia como suporte bélico dos franceses – e tendo vencido, pois, os reforços que pedira a Portugal havia chegado, e os “selvagens foram batidos e obrigados a pedir paz em 1559”.[23] Então, o governador geral da nação decidiu organizar uma expedição para atacar os franceses, ele entrou na barra do Rio de Janeiro em março de 1560.
Na Ilha estava havendo conflitos internos, diz-se que Villegaignon descobrira uma tentativa de os seus subordinados conspirarem contra ele, todavia ele descobriu tal ato; e, puniu os que assim tencionava, alguns historiadores sugerem que a responsabilidade dessa conspiração estava sobre os ombros dos pastores genebrinos, como nos lembra um historiador:
Em sua carta a Calvino (Opera, XVI, 417), Villegaignon pretende que a revolta teve origem no fato de haver ele proibido que as mulheres indígenas entrassem na colonia desacompanhadas de seus maridos – medida que levou vinte e seis mercenários, voluptatis illecti cupiditate, a conspirarem contra a sua vida, Thevet, em sua Cosmographia, procura lançar sobre os ministros genebrinos a responsabilidade, desta conspiração, quando é certo que ela se realizou antes da chegada dos mesmos, como o prova a própria carta de Villegaignon ( Lery, Prefacio, tomo I, p. 13).[24]
Villegaignon mostrou-se demasiadamente cruel quando descobriu os principais conspiradores, somos informados que
Villegaignon e os que lhe eram fieis, assim prevenidos, armaram-se e prenderam quarto dos principais conspiradores, aos quais infligiram severíssima punição, para escarmento dos demais e para os conservar adstritos ao seu dever e á sua condição, sendo que dois deles foram postos em prisões com cadeias e ferros e obrigados a trabalhos públicos durante certo tempo[25]
Após tudo isso houve uma grave controvérsia a respeito da Santa Ceia; pois, uns dos ministros queria fazer uma sangria no ato da eucaristia, isso gerou um grande problema dentro da Baía de Guanabara; mas após um fingimento de ambos os grupos celebrou-se o sacramento onde o próprio Villegaignon fez sua profissão pública de fé, demonstrando assim, que estava alinhado a fé Calvinista.
Estes conflitos internos foram prenúncios de que não haveria um futuro Calvinista para os franceses que aqui estavam. Pois, um reino dividido como estava a ilha não poderia subsistir. Mas em uma proclamação calvinista a respeito do Batismo Cristão, Villagaignon tentou contradizer o ministro da palavra em plena assembléia pública dizendo que deve-se seguir o ritual católico em relação aos sacramentos.
Então, Villegaignon decidiu matar os calvinistas que segundo ele eram inimigos do seu governo tirano. Como fazer isso? A solução veio muito breve, pois, “Com intuito de pôr em execução o seu maligno projeto, formulou um questionário sobre matéria de fé e enviou o aos cinco Calvinistas, assinando-lhes o prazo de doze horas para que o respondessem por escrito.”[26] Os cinco calvinistas que eram representantes da Igreja Reformada fizeram um bela e profunda confissão de Fé, o redator desta foi: Jean Du Bourdel. Veja-se a Confissão:


A Confissão de Fé de Guanabara
por
Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon
No dia 7 de março de 1557 chegou a Guanabara um grupo de huguenotes (calvinistas franceses) com o propósito de ajudar a estabelecer um refúgio para os calvinistas perseguidos na França. Perseguidos também na Guanabara em virtude de sua fé reformada, alguns conseguiram escapar;
outros, foram condenados à morte por Villegaignon, foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro, em 1558. Antes de morrer, entretanto, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confissão de fé na América (ver Apêndice 2), sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte. [27]

TEXTO DA CONFISSÃO [28]

Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis
apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo:

I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem. Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente.

II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis.

III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo,[3] [29]nos ensinam.

IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem. E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra.
V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração. Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: “Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste.” O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios. Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: “Este pão é meu corpo.” Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: “este é o sinal e a figura do meu corpo.” S. Agostinho diz: “O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo.” Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai. Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas.

VI. Cremos que, se fosse necessário pôr água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência. E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamentando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente.

VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer.

VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal.

IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus. De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus.

X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem. Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: “Tua perdição é de ti, ó Israel.” Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito. Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: “Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar.” O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência. A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele.

XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia. Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: “recebei o Santo Espírito;” depois acrescenta: “Se perdoardes a alguém os seus pecados,” etc. Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor.

XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence. No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares.

XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho.

XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas
Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto.

XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos. E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: “Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias.” Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: “Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado.” As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade. Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência.

XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte. Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras.

XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos. Esta é a resposta que damos aos artigos por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. Assim seja.
Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon.

Após dez anos João Bolés , conhecido como Jacques le Balleur. – o quinto calvinista – que havia fugido foi encontrado pelo Padre Anchieta e executado pelo mesmo[30]. E Mem de Sá e Estácio de Sá conquistaram o forte Coligny, e assim, o calvinismo foi sufocado no Brasil. Villegaignon ficou conhecido na Europa como o Caim das Américas, pois, havia traído os propósitos calvinistas.[31]
[1] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.83.
[2] Idem.
[3] Somos informados que o nome desta embarcação era Nossa Senhora da Ajuda – Provavelmente a mesma que veio com Tomé de Sousa - , nesta embarcação havia uma centena de pessoas: Antônio Cardoso de Barros, Lázaro Ferreira, Francisco Mendes da Costa – este veio com o primeiro Governador para ser escrivão dos colonizadores era auxiliar de Antônio Cardoso; Sebastião Ferreira que ia como procurador da cidade, a sogra de Rodrigo de Freitas – este era oficial do Rei que veio com Tomé de Sousa para o Brasil é digno de note que após ficar viúvo ele se tornou um Jesuíta; a esposa de Brás Fernandes, este era escrivão da chancelaria vindo com Tomé de Sousa; o pai de Brás Fernandes Antônio Pinheiro é bom lembrar que este era Capelão da Santa Sé do Brasil colonial, ele era também escrivão da provedoria; também estava aborda a “velha que veio com as órfãs” que chamava-se Maria Dias e o Capitão Lloas e havia o Deão que chamava-se Fernão Pires. (CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.265)
[4]CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.265-266.
[5] VICENTE, Frei. História do Brasil, São Paulo: Saraiva, 1930, p.158.
[6] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.84.
[7] CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.267.
[8] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.83.
[9] Povo indígena da tribo dos Tupis
[10] CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.267.
[11] HACK, Osvaldo Henrique. Protestantismo e Educação Brasileira, São Paulo: Cultura Cristã, 2000, p.13.
[12] CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.267.
[13] NOGUEIRA, A.F. Alves. Villegaignon, Rio de Janeiro: Brasiliense: 1944, p.10.
[14] Villegaignon é autor de livro que retrata este período o título do livro é : Carlos V e a Expedição Imperiosa na África. (CALMON, Op. Cit, p.269).
[15] BRAIBANT, Charles. França no Brasil, Rio de Janeiro: Liv. José Olympio Editora, 1955, p.11.
[16] Ibid, p.10.
[17] SCHALKWIJK, Frans Leonard. O Brasil na Correspondência de Calvino, In: Fides Reformata, Volume IX, número 1, ano 2004, p.102.
[18] RIBEIRO, Domingos. Oringens do Evangelismo Brasileiro. Rio de Janeiro: Gráfica Apollo, 1937, pp.34-35
[19] ROCHA POMBO, José Francisco. História do Brasil. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1963, p.92.
[20] CALMON, Pedro. História do Brasil, Volume 1, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959, p.269.
[21] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.87.
[22] Ibid, p.91.
[23] Ibid, p.92.
[24] CRISPIN, Jean. A Tragédia da Guanabara, Rio de Janeiro: http://www.adoração.com/ , 1917, p.11
[25] Idem.
[26] Ibid, p.29.
[27] O relato da história dos mártires huguenotes no Brasil, bem como a Confissão de Fé que escreveram, encontra-se no livro A Tragédia da Guanabara: História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, traduzido por Domingos Ribeiro; de um capítulo intitulado On the Church of the Believers in the Country of Brazil, part of Austral America: Its Affliction and Dispersion, do livro de Jean Crespin: l’ Histoire des Martyres, originalmente publicado em 1564. Este livro, por sua vez, é uma tradução de um pequeno livro: Histoire des choses mémorables survenues en le terre de Brésil, partie de l’ Amérique australe, sous le governement de N. de Villegaignon, depuis l’ an 1558, publicado em 1561, cuja autoria é atribuída a Jean Lery, um dos huguenotes que vieram para o Brasil em 1557, o qual também publicou outro livro sobre sua viagem ao Brasil: Histoire d’an voyage fait en la terre du Brésil.
[28] O texto foi transcrito de Jean Crespin, A Tragédia da Guanabara; História dos Protomartyres do Christianismo no Brasil, 65-71. O português antigo de Domingos Ribeiro (o tradutor) foi atualizado.

[29] Uma referência ao Credo Apostólico.

[30] ROCHA POMBO, José Francisco. História do Brasil. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1963, p.514
[31] MACEDO, Dr. Joaquim Manoel de. Lições de História do Brazil - Para uso de escolas de Instrução primária, Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1922, p.92.

2 comentários:

Rev.João Ricardo Ferreira de França disse...

Este estudo está bem estruturado parabéns ao João Ricardo.

José NIlton Barbosa da Silva disse...

Muito bom. Parabéns. Deus continelue te abençoando e te usando em seu ministério.