OS
SACRAMENTOS NA TRADIÇÃO LITÚRGICA REFORMADA:
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
A doutrina dos sacramentos da
Igreja Presbiteriana está intimamente ligada à concepção calvinista destes
mistérios da salvação. “A teologia sacramental do reformador João Calvino
encontra-se principalmente nos capítulos XIV a XIX do livro IV da Instituição
da Religião Cristã (Institutas) [...]”[1]. Essa
tradição calvinista se faz presente nos símbolos de fé de Westminster que são
padrões confessionais da Igreja Presbiteriana.
O
que é um sacramento? O Catecismo Maior responde:
Um sacramento é uma santa
ordenança instituída por Cristo em sua Igreja, para significar, selar e
conferir àqueles que estão no pacto da graça os benefícios da mediação de
Cristo; para os fortalecer e lhes aumentar a fé e todas as mais graças, e os
obrigar à obediência; para testemunhar e nutrir o seu amor e comunhão uns para
com os outros, e para distingui-los dos que estão fora.[2]
1 – O BATISMO CRISTÃO:
O sacramento do Batismo é fundamental na comunidade
dos fiéis. Uma vez que ele apresenta a nova perspectiva da vida cristã; pois,
este sacramento é “um sinal e selo de nos
unir a si mesmo, da remissão de pecados pelo seu sangue e da regeneração pelo
seu Espírito; da adoção e ressurreição para a vida eterna”[3].
a) Nossa União com Cristo apontada
no Batismo:
O nosso Catecismo tem a definição do batismo como um
sinal e selo da aliança para indicar a nossa união com Cristo. Paulo nos ensina
isso em Gálatas 3.27 – “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de
Cristo vos revestistes.” – então, no ato do batismo em pleno culto público é
uma declaração de Deus para conosco de que pertencemos a Cristo e estamos em
íntima comunhão com ele.
b) O Batismo é um sinal e selo das
bênçãos salvadoras:
Todas
as bênçãos salvadoras que carecemos são assinaladas e apontadas como uma
realidade no sacramento do batismo – ele aponta para tudo aquilo que Cristo fez
tais como a remissão dos pecados (Atos 22.16; Marcos 1.4; Apocalipse 1.5); a
regeneração produzida pelo Espírito Santo é simbolizada pelo derramar da água
do batismo (João 3.5; Tito 3.5).
c) O Batismo é o selo da admissão na
igreja de Deus:
O catecismo ainda nos diz que este sacramento serve
para que os que são batizados sejam “solenemente
admitidos à Igreja visível e entram em um comprometimento público, professando
pertencer inteira e unicamente ao Senhor.” (Atos 2.41)
e) Os Sujeitos do Batismo:
O batismo cristão deve ser ministrado aos pais
bem como aos filhos. O batismo doméstico deve ser praticado na Igreja de
Cristo. O que labora para a prática do
batismo infantil é o testemunho claro das Escrituras sobre a continuação da aliança (Colossenses
2.11-12); assim, como também a evidência bíblica de batismo de famílias
inteiras nas Escrituras (Atos 16.15,33-34). “Deveríamos falar em ‘batismo
familiar’ em vez de ‘batismo infantil’”[4]
2 – A EUCARISTIA.
A
prática litúrgica na igreja integra o conceito da celebração da eucaristia. O
sacramento da Santa Ceia do Senhor, como é conhecido, “é o rito basilar de
nossa fé”.[5] A
Eucaristia é lembrada como a proclamação visível de Deus ao mundo de sua
redenção.
Mas, o que é a Eucaristia ou Ceia do
Senhor? O Catecismo Maior de Westminster na pergunta 168 nos responde:
A Ceia do Senhor é um sacramento do Novo Testamento no
qual, dando-se e recebendo-se pão e vinho, conforme a instituição de Jesus
Cristo, é anunciada a sua morte; e os que dignamente participam dele,
alimentam-se do corpo e do sangue de Cristo para sua nutrição espiritual e
crescimento na graça; têm a sua união e comunhão com ele confirmadas;
testemunham e renovam a sua gratidão e consagração a Deus e o seu mútuo amor
uns para com os outros, como membros do mesmo corpo místico.
É
a refeição da aliança do povo de Deus (Mateus 26.26-28) apontando para o
sofrimento de Cristo e a libertação de seu povo.
a)
As concepções eucarísticas sobre a presença real de Cristo:
1. Transubstanciação:
A concepção da Igreja Romana de que o pão e o vinho se transformam no corpo
de Cristo literalmente.
2. Consubstanciação: A concepção
luterana de que Cristo está no pão e vinho, ou sob, ao lado junto com estes
elementos.
3.Concepção Memorial: A concepção
zuingliana de que a Santa Ceia é um mero memorial no qual não confere benção
alguma.
4. A presença real, porém espiritual: É
a posição presbiteriana de que Cristo está presente na eucaristia de forma real
porém verdadeira e espiritualmente.
b)
A regularidade da Eucaristia no culto público: Quantas vezes devem ocorrer
a Eucaristia na celebração pública? Convencionou-se nas nossas igrejas a
celebrar a Ceia do Senhor uma vez por mês, geralmente, no primeiro domingo de
cada mês. Muitos procuram justificar isso associando o rito pascal, que era
celebrado uma vez por ano, como padrão para ser uma vez por mês. E, historicamente
sabemos que Zwínglio reduziu a freqüência da celebração da Ceia do Senhor a
quatro vezes por ano – e ainda desvinculou a celebração do dia do Senhor.[6]
Mas, estudando os dados do Novo
Testamento sabemos que a Ceia do Senhor era freqüente na vida litúrgica da
igreja primitiva. Em Atos 2.42 nos mostra isso de forma muito clara. “A Ceia
era, portanto, celebrada regularmente. Diz também a narrativa, como de
passagem, que os irmãos de Trôade, no primeiro dia da semana, estavam ‘reunidos
como o fim de partir o pão’ (Atos 20.7)”.[7]
A vida da igreja era litúrgica e
sacramental. É notório que estes textos sempre apresentam o vínculo conectivo
entre o “dia do senhor” e o “partir do pão”; então, a celebração deve ser feita
no domingo e deve ser regular. Na primeira carta de Paulo aos Coríntios ele
mostra que a eucaristia era celebrada regularmente na vida da Igreja (1ª
Coríntios 10.16; 11.23-31). No capítulo 11.20 o apóstolo mostrar que ao tratar
do tema da profanação da refeição pactual ele mensura a ideia que eles
normalmente se reúnem para aquilo. Ele usa o negativo “não é a Ceia do Senhor
que comeis”, por causa, da prática pecaminosa deles que acabava por profanar o
sacramento regularmente.
No capítulo 11.24 o conceito de
memória é introduzido por Paulo seguindo a tradição de Cristo em Lucas 22.19. A
palavra grega “ἀνάμνησιν.” [anamnesin] Carrega o conceito muito amplo é mais que mera
lembrança. A ideia que o conceito encerra é de “tornar presente aquilo que
recorda”.[8] Podemos
dizer que se trata de uma recapitulação da história da redenção que nos fornece
certeza da presença verdadeira de Cristo na celebração litúrgica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. ALLMEN,
J.J. Von. O Culto Cristão Teologia e
Prática. Tradução: Dírson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: ASTE, 2006,
p. 147.
2.
GIRAUDO, Cesare. Redescobrindo
a Eucaristia. Tradução: Francisco Taborda.
São Paulo: Edições Loyola.
3. KLEIN,
Carlos Jeremias. Os Sacramentos na
Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
4.
LUCAS, Sean Michael . O Cristão Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias.
Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
5.
MAZZAROLO, Isidoro. A
Eucaristia: Memorial da Nova Aliança – Continuidade e Rupturas. São Paulo:
Editora Paulus, 1999.
*
O Autor é Ministro da Palavra pela
Igreja Presbiteriana do Brasil. Estudou no Seminário Presbiteriano do Norte
(SPN) em Recife – PE. Foi professor de línguas bíblicas (Hebraico e Grego) no
Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (SPFB) em Recife – PE.
Atualmente é pastor na Primeira Igreja Presbiteriana de Piripiri – Piauí.(www.ipdepiripiri.blogspot.com.br
) É casado e tem um filho.
[1]
KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na
Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.87-88.
[2]
Catecismo Maior de Westminster resposta
à pergunta 162.
[3]
Catecismo Maior de Westminster resposta à pergunta 165.
[4]
LUCAS, Sean Michael . O Cristão
Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.83.
[5]
GIRAUDO, Cesare. Redescobrindo a
Eucaristia. Tradução: Francisco Taborda.
São Paulo: Edições Loyola, p.7.
[6]
KLEIN, Carlos Jeremias. Os Sacramentos na
Tradição Reformada. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p.86.
[7] ALLMEN,
J.J. Von. O Culto Cristão Teologia e
Prática. Tradução: Dírson Glênio Vergara dos Santos. São Paulo: ASTE, 2006,
p. 147.
[8]
MAZZAROLO, Isidoro. A Eucaristia:
Memorial da Nova Aliança – Continuidade e Rupturas. São Paulo: Editora
Paulus, 1999, p.89.
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